Soneto 47
Há uma união entre o que vejo e o que sinto,
E o bem de cada coisa verte de uma em outra:
Quando os meus olhos anseiam por um olhar,
Ou o coração, apaixonado, brando, a suspirar,
Meus olhos celebram a imagem do meu amor,
E, diante do banquete, se rende a minha emoção;
Em outro tempo, meus olhos se aninham ao sentimento,
E aos seus pensamentos de amor se unem:
Então, seja por tua imagem ou pelo meu amor,
Estás, mesmo longe, sempre comigo;
Pois não corres mais do que meus pensamentos vão,
E eu estou sempre com eles e, eles, contigo;
Ou, se adormecem, a tua imagem à minha frente
Desperta meu amor para a alegria dos olhos e do coração.
Sonnet 47
Betwixt mine eye and heart a league is took,
And each doth good turns now unto the other:
When that mine eye is famish’d for a look,
Or heart in love with sighs himself doth smother,
With my love’s picture then my eye doth feast,
And to the painted banquet bids my heart;
Another time mine eye is my heart’s guest,
And in his thoughts of love doth share a part:
So, either by thy picture or my love,
Thyself, away, art present still with me;
For thou not farther than my thoughts canst move,
And I am still with them, and they with thee;
Or if they sleep, thy picture in my sight
Awakes my heart to heart’s and eye’s delight.
(do livro “44 Sonetos Escolhidos”, Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta, Ibis Libris Editora)