Metamorfoses
Neste tempo de armas aperradas
neste tempo de laços e espiões
neste tempo de sangue e de fantasmas
nesta noite de ódios e alçapões
passam por nós as asas facetadas
de vultos fraternais e as visões
de coloridos rostos e das margens
que nos decidem hoje para depois
como silêncios d’água, como praias
e pulsos de crianças e balões,
flores de beijos ternos e telhados
da amizade franca e dos bois
que o verde bebem, sonham, inefáveis,
calor de rosas bravas e canções
no tórax, nas faces e nas lágrimas
onde pedaços de lume geram sóis.
Livro
“A habitação dos dias”, 1962
(do livro "Poesia portuguesa do pós-guerra 1945
- 1965", Organização: Afonso Cautela e Serafim Ferreira, Editora
Ulisseia )
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