domingo, 24 de agosto de 2014

parte de am/ or - Paulo Leminski



Campo de sucatas


saudade daquele futuro que não houve
aquele que ia ser nobre e pobre
como é que tudo aquilo pôde
virar esse presente poder
e esse desespero em lata?

pôde sim pôde como pode
tudo aquilo que a gente sempre deixou poder
tanta surpresa pressentida
morrer presa na garganta ferida
raciocínio que acabou em reza
festa que hoje a gente enterra

pode sim pode sempre como toda coisa nossa
que a gente apenas deixa poder que possa

1987


(do livro “Toda poesia”, Companhia das Letras)



Nenhum comentário:

Postar um comentário