Campo de sucatas
saudade daquele futuro que não
houve
aquele que ia ser nobre e pobre
como é que tudo aquilo pôde
virar esse presente poder
e esse desespero em lata?
pôde sim pôde como pode
tudo aquilo que a gente sempre deixou poder
tanta surpresa pressentida
morrer presa na garganta ferida
raciocínio que acabou em reza
festa que hoje a gente enterra
pode sim pode sempre como toda
coisa nossa
que a gente apenas deixa poder que possa
1987
(do livro “Toda poesia”, Companhia das Letras)
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