Fantasia
Quanti dolci pensier, quanto disio!
DANTE
C’est alors que
ma voix
Murmure
un nom tout bas... c’est alors que le vois
M’apparaître à demi, jeune, voluptuense,
Sur ma couche
penchée une femme amoureuse!
.........................................……………..
Oh! toi que j’ai rêvée,
Femme à mes longs baisers si souvent enlevée
Ne viendras-tu jamais?..............
CH. DOVALLE
À noite sonhei contigo,
E o sonho cruel maldigo
Que me deu tanta ventura.
Uma estrelinha que vaga
Em céu de inverno e se apaga
Faz a noite mais escura!
Eu sonhava que sentia
Tua voz que estremecia
Nos meus beijos se afogar!
Que teu rosto descorava,
E teu seio palpitava,
E eu te via a desmaiar!
Que eu te beijava tremendo,
Que teu rosto enfebrecendo
Desmaiava a palidez!
Tanto amor tua alma enchia
E tanto fogo morria
Dos olhos na languidez!
E depois... dos meus abraços,
Tu caíste abrindo os braços
Gélida – dos lábios meus...
Tu parecias dormir,
Mas debalde eu quis ouvir
O alento dos seios teus...
E uma voz, uma harmonia
No teu lábio que dormia
Desconhecida acordou;
Falava em tanta ventura,
Tantas notas de ternura
No meu peito derramou!
O soído harmonioso
Falava em noites de gozo
Como nunca eu as senti,
Tinha músicas suaves
Como no canto das aves
De manhã eu nunca ouvi!
Parecia que no peito
Nesse quebranto desfeito
Se esvaia o coração.
Que meu olhar se apagava,
Que minhas veias paravam,
E eu morria de paixão...
E depois... num santuário,
Junto do altar solitário,
Perto de ti me senti;
Dormias junto de mim...
E um anjo disse assim:
“Pobres amantes, dormi!”
Tu eras inda mais bela –
O teu leito de donzela
Era coberto de flores...
Tua fronte empalecida,
Frouxa a pálpebra descida,
Meu Deus! que frio palor!...
Dei-te um beijo – despertaste,
Teus cabelos afastaste
Fitando os olhos em mim...
Que doce olhar de ternura!
Eu só queria a ventura
De um olhar suave assim!
Eu dei-te um beijo, sorrindo
Tremeste os lábios abrindo,
Repousaste ao peito meu...
E senti as nuvens cheirosas,
Ouvi liras suspirarem,
Rompeu-se a névoa... era o céu!...
Caía chuva de flores
E luminosos vapores
Davam azulada luz...
E eu acordei... que delírio,
Eu sonho findo o martírio
E acordo pregado à cruz!
(do livro “Lira dos vinte anos”, Martin Claret)
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