Em nossas artérias nossas raízes
chamaram raízes os finos rastros de tinta
vermelha
ou as cordas que artérias ou fios
davam luz e lembravam terra
marcaram as vozes na pele
e chamaram raízes as vozes
vermelhas
que cantaram braços e pulmões
marcas novas frescas na pele
cinzenta
onde furos agudos
onde
ferros tantos
onde costa ereta, sinal de ônibus. Anemia
sobre a escultura do bíceps sobre
a dor descomunal de um piercing
traços frescos
de
tinta
vermelha
insinuando-se além da gasolina que queimava
para alimentar o refino da gasolina
além a tinta
fresca
os fios que enfiavam sob a pele
para que fossem artérias
para que fosse corpo
vermelho
cada pedaço da casa
que devoravam como terra
e como terra criaram raízes
(João Gabriel Ascenso, coleção Kraft)