terça-feira, 15 de abril de 2014

Lucas Guimaraens



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Canto geral

“Puedo escribir los versos más tristes esta noche”.
(Pablo Neruda, Poema XX)

arranharei um canto geral.
no entanto florestas já não contam palavras
e não há lirismos. rios e pedras enclausurados por diques e mineradoras.

não há mãos calejadas mas inflamações nos pulsos dos caixas eletrônicos e linhas de produção.

não há condor e o petróleo queimou com as últimas bombas deste mundo.

não há passos na areia.
pássaros com balões
de oxigênio nestes ares despressurizados.
aves fumam por falta de catalisadores.
(homens vivem por falta de cataclismos).

flores não sopram vidas
copos de lírios são apenas copos
de poluição concentrada e branco tingido de sujo
e a serpente brilhante apagada como o último trago.

o canto geral é campo de batalha e miopia dos homens.

assobio do último sobrevivente
esses versos morrem nos sete mares verdes do poeta naufragado
epilepsias de epifanias eletromagnéticas. 
bilhetes de bateaux mouches reservados para invasores alemães nos anos 40.

levarei pela coleira minhas orquídeas a passeio.
depois de mijarem nos postes de luz
poderei comer uma junk food sem ser eletrocutado?


Lucas Guimaraens é mineiro de Belo Horizonte, 34 anos. Vem de uma família de poetas, contistas e romancistas, dentre eles, Bernardo Guimarães, Alphonsus de Guimaraens, João Alphonsus, Alphonsus de Guimaraens Filho e Afonso Henriques Neto. Publicou poemas em diversas antologias, periódicos e revistas no Brasil e no exterior (dentre as quais, a Revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, a Revista da Academia Mineira de Letras, a revista Espanhola En Sentido Figurado e a francesa Caravelles), tendo recebido alguns prêmios literários.  Lançou, em 2011, seu livro: “Onde (poeira pixel poesia)”, pela editora carioca 7Letras. 



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