réquiem
Já gozei nessa vida
Da fortuna de um homem
Bom e justo.
Já tive mais namoradas do que amores frívolos.
Já fiz um filho,
Plantei feijão
E os livros que não escrevi
Tem menos sonetos do que amores mortos.
Pousei tantos ramos
Sobre o corpo de Esmeralda
Li e reli os versos que escrevi para Esmeralda
(Antes de atear o fogo que lambeu o ondear dos cabelos
dela)
Já sonhei trêmulo ao pé da lareira
Apertando meus joelhos no peito
Com medo do inferno, com medo
De ir pro céu.
Hoje eu não tenho mais medo
De ter medo de temer a morte
Que a morte
É um rinoceronte filhote
Cujo fígado é composto
Pelos átomos de flores antigas.
Hoje eu sou filho, avô, namorado e Rei
E sei que as pedras preciosas,
Esmeralda,
Duram mais
Do que o meu nome, ali, olha
Cavado no ferro da lápide.
(do livro "Dezembro", Editora Circuito)
Nenhum comentário:
Postar um comentário