quinta-feira, 11 de julho de 2013

Oficina - Paulo Henriques Britto

IV



Tudo se perde, nada se aproveita,

eu sei. Porém a impressão permanece:

alguma (pouca) coisa que foi feita

pode talvez merecer uma espécie

de não exatamente eternidade,

mas mais que o imediato esquecimento.

Será ilusão? Será pura vaidade?

Bem provável. Sendo assim, me contento

com o vago prazer (se é mesmo prazer)

de rabiscar num caderno, ao acaso,

o que talvez jamais venha a ser lido

por mais ninguém. Nem por mim. Escrever

é preciso. Por quê? Não vem ao caso.

E faz sentido? Não. Não faz sentido.


(do livro "Formas do nada", Companhia das Letras)


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