Sentinelas da noite escondidos em nuvens
sentinelas da noite escondidos em nuvens
um silêncio afogando os prédios
cães em outro bairro debatem o tempo
mães em silêncio sonham no passado
gatos brigam na beirada de muros
algum grilo desaparece de si mesmo
no japão já é outro dia
coração ainda bate acelerado
era pra cidade dormir agora
mas os prédios insistem em sonhar
uma moça tira o sutiã
coloca o pijama
e desliga o computador
parece algum alarme de carro
lá no final da rua
ou será minha respiração?
nessa noite tão escura
escondem no asfalto preto dessa rua
um suave leito da visão
pareceu um navio atrás do morro
e nem estou dormindo
sonho acordado submerso em vida
ou a vida sonha com o verso findo?
nas paredes e no teto
bate também por entre os prédios
é com o coração que arquiteto
metro a metro
até chegar
longe do perto
um dos meus avôs veio do pantanal. o outro veio do
japão. nasci na holanda. sou brasileiro. nasci num clube da esquina. no
encontro de várias ruas. andei de skate. coloquei o pé no pacífico. vi a torre
eiffel ascender suas luzes. numa paris sobrenatural
provei vinho
de mendoza. senti a brisa de uma geleira derretida. pelas bandas do canadá.
tremi com um terremoto na costa rica. e subi num vulcão lá. dizem que três
vezes por ano. quando o céu está totalmente aberto. dá pra ver o pacífico e o
atlântico
indefinir o
longe e o perto. de cima daquele vulcão. um dia quero ver...
já morei em
frente ao mar. já quase me afoguei. tive amores imaginários. alguns amores
deixei. vi um céu muito estrelado. de dar dó. lá em visconde de mauá
e a cachoeira
mais bonita aquela. acho que foi em serra do cipó. parecia um lugar de sonhos.
de repente era. não canso de ver. o horizonte do arpoador. olhar o mar sem
pressa. seja de onde for. funciona pra mim como uma reza.de repente é...
quando eu
nasci. uma anja loira, alta, holandesa disse: vai, Taiyo! ser outros na vida
navegar é
precioso. vai ser outros. outras pessoas. fazer poesia. do pantanal eu trago
uma pré-história. um gosto de antes dos começos. como tocar no mar pela
primeira vez
achar os
olhos da mãe e do pai quando bebê. do japão tem um olhar invertido. olhar o que
está dentro. do brasil eu colhi um sorriso. a alegria de estar vivo. da holanda
um olhar subversivo. como jogar uma bicicleta num canal.
nasci mesmo
foi numa esquina. na esquina entre o bem e o mal. caminhando em saltos
pulando
moças, cheiros, apartamentos. até encontrar aquela visão. que eu tinha desde
pequeno. até ver o meu sol. viver, meu nome, viver. escrito em corpo de mulher.
até encontrar
carol
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