segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Poemas - Lawrence Durrell



Cristo no Brasil


Além dele, cujos cabelos femininos escorrem
Pelo elegante dorso abaixo
Ou cujas palmas se encolhem
Ali onde as unhas têm entrada,
Erguendo-se, denunciada a poeira que foram,
Surgem sótãos de testemunhas do pecado.

Tanto aqui quanto neste mapa já se desbarata,
O legionário amaldiçoou Roma;
Além mesmo da Europa, no Brasil, o vejo
Aquecido da seiva das matas
Sem achar casa fora de casa, tornar-se
Cônsul negro nos países do Desejo.

Aqui nomeado, ali honrado, nunca entendido, talvez,
Pairando sobre o Rio em seu penhasco
Cujo pequeno original em madeira se fez,
Em gradual petrificação de sua dor, aflito,
Espalha a tintura bárbara do conscrito
Sobre as cidades de carne, sua viuvez.

1948


Christ in Brazil


Further from him whose head of woman's hair
Grew down his slender back
Or whose soft palms were puckered where
The nails were driven in,
Rising denounced the dust they were,
Became white lofts of witness to the sin.

Both here and on that  patworn map
The legionary darned for Rome,
Further from Europe even, in Brazil
Warmed by the jungle's sap,
Finding no home from home became
Dark consul for the countries of the Will.

Here named, there honoured, nowhere understood,
Riding over io on his cliffs of stone
Whose small original was wood,
In gradual petrifaction of his pain,
He spreads the conscript's slow barbaric stain
Over the cities of the flesh, his widowhood.

1948


(do livro "Poemas", Topbooks)



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