segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Alfonsina Storni



Frente ao mar

Oh mar, enorme mar, coração fero
de ritmo desigual, coração mau,
eu sou mais branda que esse pobre pau
que apodrece em tuas ondas prisioneiro.
Oh mar, dá-me tua cólera tremenda,
eu passei a vida perdoando,
porque entendia, mar, eu, me fui dando:
«Piedade, piedade para o que mais ofenda». 

Vulgaridade, vulgaridade me acossa.
Ah, compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me possuir tua cólera sem nome:
já me cansa esta missão de rosa.


Vês o vulgar? Esse vulgar me dá pena,
sinto falta de ar e onde falta fico,
queria não entender, mas não posso:
é a vulgaridade que me envenena.


Empobreci-me porque entender abruma,
empobreci-me porque entender sufoca,
Abençoada força da rocha!
Eu tenho o coração como a espuma.

Mar, eu sonhava ser como tu és,
nestas tardes onde a minha vida
através das horas cálidas se abria...
Ah, eu sonhava ser como tu és.

Veja-me aqui, pequena, miserável,
toda dor me vence, todo sonho;
mar, dá-me, dá-me o inefável empenho
de tornar-me soberba, inalcançável.

Dá-me teu sal, teu iodo, tua braveza.
Ar de mar!....Oh, tempestade! Oh ódio!
Por desgraça, sou um abrolho,
E morro, mar, sucumbo na minha pobreza.

E a minha alma é como o mar, penso,
Ah, a cidade a apodrece e a equivoca;
pequena vida que dor provoca,
que possa libertar-me de seu peso! 


Voa meu empenho, minha esperança voa...
Minha vida deve ter sido horrível,
Deve ter sido uma artéria irreprimível                 
e somente é cicatriz que sempre se magoa.


Frente al mar

Oh mar, enorme mar, corazónfiero
de ritmo desigual, corazónmalo,
yosoy más blanda que ese pobre palo
que se pudreentus ondas prisionero.

Oh mar, dame tu cólera tremenda,
yo me paséla vida perdonando,
porque entendía, mar, yo me fui dando:
"Piedad, piedad para el que más ofenda".

Vulgaridad, vulgaridad me acosa.
Ah, me han comprado laciudad y elhombre.
Hazmetener tu cólera sinnombre:
Ya me fatiga esta misión de rosa.

¿Ves al vulgar? Ese vulgar me apena,
me falta el aire y donde falta quedo,
quisiera no entender, pero no puedo:
es lavulgaridad que me envenena.

Me empobrecí porque entender abruma,
me empobrecí porque entender sofoca,
¡Bendecidalafuerza de la roca!
Yotengoelcorazón como la espuma.

Mar, yosoñaba ser como tú eres,
alláenlas tardes que la vida mía
bajo las horas cálidas se abría...
Ah, yosoñaba ser como tú eres.

Mírameaquí, pequeña, miserable,
todo dolor me vence, todo sueño;
mar, dame, dameelinefableempeño
de tornarme soberbia, inalcanzable.

Dame tu sal, tu yodo, tu fiereza,
¡Aire de mar!... ¡Oh tempestad, oh enojo!
Desdichada de mí, soyunabrojo,
y muero, mar, sucumbo en mi pobreza.

Y el alma mía es como el mar, es eso,
Ah, laciudadlapudre y equivoca
pequeña vida que dolor provoca,
¡Que puedalibertarme de su peso!

Vuele mi empeño, mi esperanzavuele...
La vida míadebió ser horrible,
debió ser una arteriaincontenible
y apenas es cicatriz que siempre duele.


Tradução: Francielle Piuco Biglia


A poetisa argentina Alfonsina Storni (1892-1938) nasceu em Sala Capriasca( Suiça) a 29 de maio de 1892 e emigrou com quatro anos para a  província de San Juan na Argentina.Sua poesia reflete a luta e a audácia das mulheres. Em 1938, num hotel do Mar del Plata, envia para um jornal o soneto “Voy a dormir”. Três dias depois se suicida, deixando-se ser levada pelo mar. 



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