segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Poemas de Gerard Manley Hopkins



A grandeza de Deus


A grandeza de Deus o mundo inteiro a admira.
Em ouro ou ouropel faísca o seu fulgor;
Grandiosa em cada grão, qual limo em óleo amor-
tecido. Mas por que não temem sua ira?
Gerações vêm e vão; tudo o que gera, gira
E gora em mercancia; em barro, em borra de labor;
E ao homem mancha o suor, o sujo, a sujeição; sem cor
O solo agora é; nem mais, solado, o pé o sentira.

E ainda assim a natureza não se curva;
Um límpido frescor do ser das coisas vaza;
E quando a última luz o torvo Oeste turva
Ah, a aurora, ao fim da fímbria oriental, abrasa -
Porque o Espírito Santo sobre a curva
Terra com alma ardente abre ah! a alva asa.

(1877)

God's Grandeur


The world is charged with the grandeur of God.
It will flame out, like shining from shook foil;
It gathers to a greatness, like the ooze of oil
Crushed. Why do men then now not reck his rod?
Generations have trod, have trod, have trod;
And all is seared with trade; bleared, smeared with toil;
And wears man's smudge and shares man's smell: the soil
Is bare now, nor can foot feel, being shod.

And for all this, nature is never spent;
There lives the dearest freshness deep down things;
And though the last lights off the black West went
Oh, morning, at the brown brink eastward, springs -
Because the Holy Ghost over the bent
World broods with warm breast and with ah! bright wings.


(do livro "A beleza difícil", introdução e tradução: Augusto de Campos, Editora Perspectiva)



Nenhum comentário:

Postar um comentário