terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Carlos Nogueira

Ilusão das estrelas

Madrugada na cidade,
silêncio cortado por rajadas de vento.
Rotos rodopiando na calçada,
retalhos de saudade.
estrada, simbolismo infinito.
Chegada e partida; 
procura e encontro;
istmo, elo, desejo, paixão

Olhando para o céu
silêncio e escuridão
Não era noite, nem dia
Dia não havia
Noite  não era
Não havia espaço tempo
Galáxia,
Estrela de quinta grandeza
Ou apenas o Sol

Em meus sonhos
Olhos esmeraldas
Céu cravejado de brilhantes
espelho solidão
Viagem anos e eras
Das estrelas, ilusão
Longínqua explosão brilhando agora
Ínsula, ilha, Ursa Maior

Amanhecer com o céu escuro claro,
azul avermelhado e esperar o sol.
O verde azulado do mar está na varanda
no balanço da rede
sonhei o hoje eternizado. 


Carlos Nogueira é graduado em Letras (UFRJ), Mestre em Memória Social (UNIRIO), autor de Samba, cuíca e Sã Carlos (Armazém Digital, RJ, 2005) e Olhar de Ifá (Oito e Meio, RJ, 2011).





segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

154 sonetos - William Shakespeare



Soneto 93


Assim vivo, supondo-te verdadeira,
Como um marido traído; assim a face do amor
Parecerá amorosa, embora, diversa, se altere –
Voltando a mim os olhos não pode haver ódio,
Assim nisso não percebo a tua mudança.
De muitas formas a história do falso coração
Se escreve em estranhas alterações de humor;
Mas os céus, ao criar-te, decretaram
Que em teu rosto o doce amor sempre vivesse;
Teu olhar não expressaria senão a doçura
Que passasse por tua mente ou teu coração.
   Tal a maçã de Eva, aumenta tua beleza,
   Se tua doce virtude não te responder em vão!

  

Sonnet 93


So shall I live, supposing thou art true,
Like a deceived husband; so love’s face
May stil seem love to me. Though altered new –
Thy looks with me, thy heart in other place.
For there can live no hatred in thine eye,
Therefore in that I cannot know thy change.
In many’s looks the false heart’s history
Is writ in moods and frowns and wrinkles strange;
But heaven in thy creation did decree
That in thy face sweet love should ever dwell;
Whate’er thy thoughts or thy heart’s workings be,
Thy looks should nothing thence but sweetness tell.
   How like Eve’s apple doth thy beauty grow,
   If thy sweet answer not thy show!


(do livro "154 sonetos", Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta, Ibis Libris Editora)


 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Mario Quintana



Sempre


Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
Só o que está perdido é nosso para sempre.
Nós só amamos os amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente...


(do livro “Mario Quintana”, seleção: Fausto Cunha, Global Editora)



sábado, 28 de dezembro de 2013

Ana Cecília Reis



Encontro na praia


Mar sem vento
Solidão lotada

A autoestima derretendo
No calor das escolhas erradas

Areia engasgando palavras


(do livro “Coletânea de poemas da Biblioteca Popular de Afogados”, organização> Danielle Romani, Lenice Gomes, Marcelo Márcio de Melo, Fundação de Cultura Cidade do Recife)



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Bendita palavra - Maria Rezende



No escuro dos olhos fechados me equilibrar do desejo
a cama fluída como mar
o peito macio de ar e de risos
sussurros suspiros sumiços no espaço

Detesto seus banhos em outras banheiras
e as músicas lindas que tinha por lá
tudo teu bonito eu quero
o de antes - o de antes

Quero o que dói e o que grita
teu suor, teus sonhos ruins
quero ser cura e veneno
quero o prazer mais pequeno que você puder sentir

Quando o planeta rugir
e o infinito for possível em todas as direções
quero ser um nos teus dentes
teu nome em mim feito um filho
feito gente
feito carne de pegar


(do livro "Bendita palavra", Editora 7Letras)