terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Flávia Iriarte

Cinema

Pura sincronia:
as nuvens o asfalto a paisagem andam.
árvores correm no meu carro.
Paisageio.

Você, sentado no banco carona
fica aguardando entrar em cena.
Olho-te de soslaio, você me tem diagonal
nessa nova sequência somos piloto e copiloto
nada mais, mais alguém
e te caberia o banco de trás.

Em off
Li na Ego que a Lindsey Lohan está internada numa clínica de reabilitação junto com o Mike Tyson.
Um tal de Joe Francis disse que Paris Hilton chupa pau melhor do que ela.

Quando o Cinema começou a falar, os filmes entraram em franca decadência.
Deixemos o limpador de para-brisas fazer seu trabalho. A chuva está apertando
e eu não consigo falar enquanto dirijo.
Você faz de mim videoclipe. Picota-me em mil planos descaradamente ordinários.
Eu persigo o plano-sequência da pista por detrás do vidro embaçado.

Corta.

Passemos ao vídeo-arte non-sense.
Ele nos desexplica muito bem.
Monto-te e desmonto-te com meu material velho:
nosso beijo no pedágio, nossa música favorita.

Seu beijo tem o som de uma fila de carros buzinando enlouquecidos.


Flávia Iriarte nasceu em 1985. Formou-se em Cinema pela UFF e fez mestrado em Literatura, Cultura e Contempo­raneidade na PUC-Rio. Em 2010, fundou a Oito e meio (www.oitoemeio.com.br), editora com foco na publicação da lite­ratura contemporânea. É autora do livro "Todo homem naufraga".



Um comentário:

  1. Obrigado Flávia pelas ótimas dicas leterárias que tem me enviando por e-mail. Abraços! Cláudio Costa.

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