sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mulheres - Paul Verlaine



Gozos


Monta sobre minha cabeça
De maneira que minha língua
Não possa mais tagarelar,
Sendo obrigada a fazer festas
Na tua buceta e no teu cu,
Que me abateram para sempre,
Como, aliás, todo o teu corpo
E essa alma pouca celeste,
E este espírito carniceiro
Que devora em mim o ideal
Tornando-me o mais putaneiro,
Eu que era puro, angelical,
Até o dia em que te encontrei,
Há tantos anos, tantos já!
Isso, ajeita-te bem e mostra
Com alguns gestos complacentes:
No fundo amas este teu velho
Ou pelo menos o suportas
Quanto te chupa e te mastiga,
Como um mais jovem, mais bonito,
Concedo, mas nunca tão gostoso
Na ciência e no desempenho.
Ai, buceta de cheiro bom!
Nela enfio o nariz, a língua,
Faço o diabo nela, farejo,
Babujo, remexo, engrolo,
Aspiro e ah, me delicio:
Buceta de cheiro sacana
Com o seu montículo fulvo,
Cercada de penugem ruiva
Até o buraco milagroso,
Onde remexo, onde babujo,
Onde farejo e onde babo
Com a atenção meticulosa
E o fervor cego de um escravo
Livre de todo o preconceito.
A racha adorável que já
Lambi amoroso desde o dorso,
Passando, depois, pelo poço
Onde fico uma temporada
Prestando as devoções de praxe,
Me conduz direto à fenda
Gloriosa da minha donzela.
Lá, eu faço um salamalaque
Esotérico, inteiramente,
Aquele clitóris molhado.
Aí minha cabeça de baixo,
Irritada com tantos embates
Se desmancha em alva retórica
Mas se acalma com tais premissas.

E adormeço entre tuas coxas
Que, com tanta emoção amável,
De cansaço, se distenderam.


(do livro "Poema eróticos - Para ser caluniado", Apresentação, seleção e tradução: Heloisa Jahn Editora Brasiliense) 



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