Ressurreição
Porque a forma das coisas lhe fugia,
O poeta deitou-se e teve sono.
Mais nenhuma ilusão lhe apetecia,
Mais nenhum coração era seu dono.
Cada fruto maduro apodrecia;
Cada ninho morria de abandono;
Nada lutava e nada resistia,
Porque na cor de tudo havia outono.
Só a razão da vida via mais:
Terra, sementes, caules, animais,
Descansavam apenas um momento.
E o vencido poeta despertou
Vivo como a certeza dum rebento
Na seiva do poema que sonhou.
(do livro “Cinco séculos de sonetos portugueses de
Camões a Fernando Pessoa”, organização: Cleonice Berardinelli, Casa da Palavra)
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