sábado, 25 de maio de 2013

Adolfo Casais Monteiro

Permanência


Não peçam aos poetas um caminho. O poeta

não sabe nada de geografia

celestial. Anda

aos encontrões da realidade

sem acertar o tempo com o espaço.

Os relógios e as fronteiras não têm

tradução na sua língua. Falta-lhes

o amor da convenção em que nas outras

as palavras fingem de certezas.

O poeta lê apenas os sinais

da terra. Seus passos cobrem

apenas distâncias de amor e

de presença. Sabe

apenas inúteis palavras de consolo

e mágoa pelo inútil. Conhece

apenas do tempo o já perdido; do amor

a câmara-escura sem revelações; do espaço

o silêncio de um voo pairando

em toda a parte.

 
Cego entre as veredas obscuras é ninguém e

nada sabe
- morto redivivo


(do livro "Poetas portugueses modernos", Seleção: João Alves das Neves, Civilização Brasileira)


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