quinta-feira, 16 de maio de 2013

(o poema rasgando as córneas - Letícia Simões

Com o oceano inteiro a navegar


a ponto de partir

escuto nossos olhares sorrindo

à distância

 
o azul ainda arde

na pele do mais recente

náufrago

 
me despeço como quem afia as garras

 
(estou ameaçada e repetida)

 
um dia iremos nos

encontrar

já sem a ânsia de controlar

as palavras

 
sorriremos

das cidades que construímos e

enterramos na velocidade do

azul profundo

 
depois mergulharemos

 
(cada um com seu próprio tanque

de oxigênio)

 
diremos:

um dois três


desaparecemos

junto às ondas


às memórias de alto

mar
 
 


(do livro "Daqui, em 1976, acenei para você", Editora Patuá)


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