segunda-feira, 13 de maio de 2013

William Shakespeare [1563 - 1616]

Última fala de Próspero


Meu encanto terminado,

Voltei a meu próprio estado

Que é frágil, hei de o afirmar.

Cá me podeis confinar

Ou Nápoles atingir

Caso o queirais permitir.

Como reavi meu ducado

E perdoei muito pecado,

Nesta ilha não me deixeis;

Antes, vossas mãos fiéis

Libertem-me destes laços.

Vosso hálito nos espaços

Minhas velas enfunai

Ou meu projeto se esvai,

Pois em vão sonho com a arte

Que as almas une ou reparte,

E ou de tudo desespero,

Ou vossas preces espero

Que têm força e ao alto vão

Trazendo a paz e o perdão.

Como quereis indulgência

Comigo usai clemência,

O que desejais, decerto,

Deixando-me enfim liberto.

 

Prospero’s last speech


Now my charms are all o’erthrown,

And what strength I have’s mine own,

Which is most faint: now, ‘tis true,

I must be here confined by you,

Or sent to Naples. Let me not,

Since I have my dukedom got

And pardon’d the deceiver, dwell

In this bare island by your spell;

But release me from my bands

With the help of your good hands:

Gentle breath of yours my sails

Must fill, or else my project fails,

Which was to please. Now I want

Spirits to enforce, art to enchant,

And my ending is despair,

Unless I be relieved by prayer,

Which pierces so that it assaults

Mercy itself and frees all faults.

As you from crimes would pardon’d be,

Let your indulgence set me free.
 

(do livro "Cinco séculos de poesia", poemas traduzidos por Alexei Bueno, Record)
 

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