Terceiro
José
E agora, José?
Carlos
Drummond de Andrade
Agora, apodrecer.
José
Gomes Ferreira
E
agora, José?
Submisso
na queda
e
já sem mulher
ouça
a voz nocturna
que
vai lhe dizer:
Agora?
Apodrecer.
do
seu suicídio
o
sonho, implacável,
há-de
persegui-lo.
E
agora, José?
Apodreça
tranquilo.
em
tal sacrifício
confia
no dilúvio
da
plena incoerência.
E
agora, José?
Santa
paciência.
o
bulício dos timbales
e
não mais o pão
das
palavras amigas.
E
agora, José?
O
roer das formigas.
a
planura do mar,
mas
onde o ciclone
para
o mastigar?
Você
é duro, José.
Já
não sabe cantar.
é
de barro, é de pedra,
vai
depressa, a galope
e
o sol quase a nascer.
E
agora, José?
Agora,
apodrecer.
Diário de Lisboa,
7 de outubro de 1965
(do livro "Poesia portuguesa do pós-guerra 1945 - 1965", Organização: Afonso Cautela e Serafim Ferreira, Editora Ulisseia )
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