domingo, 19 de maio de 2013

Pescados vivos - Waly Salomão

Ler Drummond


Pico de Itabira

que máquina mineradora não corrói

é a própria obra poética de CDA,

ápice do modernismo brasileiro.

Fulano de tal situa sua poesia entre o símbolo e a alegoria

e beltrano vislumbra nela o princípio-corrosão

e sicrano percebe uma poética do risco;

enquanto este escrutina a técnica da palavra-puxa-palavra

aquele outro detecta uma estilística da repetição.

Enquanto as interpretações subsidiárias

não criam uma película fantasmática

entre o leitor treinado, o leitor plurifocal, e a poesia de Drummond.

Esta permanece qual rútilo e incorruptível diamante,

imune aos assaltos dos exércitos da hermenêutica.

 
Pratico umas leituras luteranas,

– e, desde que fato nunca nem há mais,

giram que giram celeradas as roldanas das interpretações –

enfio um pé aquém e outro pé além,

um contato direto e sem intermediários

com as sete faces dos seus veios poliédricos.

Reler Drummond pela milionésima vez é uma aventura adâmica,

um convite renovado ao espanto e a surpresa.

Close readings nas internas das galerias das minas.

Magia lúcida, esfinge clara:

chiar para não ser destituído do estímulo do simples enigmático.

Uma pedra de tropeço quebra o sono dogmático.

 
Açucarado? Edulcorado? Nunca de núncaras.

Dissolução de Minas, família e Deus.

Morte do absoluto & despetalar da rosa do bloco histórico e redução eidética

 
Em clave sintética:

Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus

Tempo de absoluta depuração.

 
Oficina irritada em direção a um sereno/ escalavrado agnosticismo.

A vida passada a limpo não em nome da restauração do perdido

Mas sim da almejada: Nudez

 
Estoicismo sem consolo nem vanglória.

A procura da poesia é um aparelho processador/ reprocessador

Que nulifica bazófias.

 
Sherazadiar:

            ler Drummond pela milionésima e mais uma vez e mais...
 
 
(do livro "Pescados vivos", Rocco)
 
 
 
 
 
 

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