Canto
dos sinais
Esta
noite um pássaro gritou amargura
como
se viessem arrebatar-lhe a alma.
Voou
da tua mão esta noite o espelho,
teu
vestido esta noite rasgou-se em luto
e
contrariada te sentaste para cerzir o rasgão,
e
eis que o sangue manchou tua agulha.
Não
abras teu coração aos sinais.
Que
o medo não arda em teus olhos.
Pois
os sinais anunciarão o bem,
pois
é a alegria que bate às portas
pois
eles não são para ti mas para teus carrascos.
Minha
filha, se os cães uivam na cidade
não
é sinal de que um anjo passa pela cidade.
Minha
filha, se um anjo passa pela cidade
não
é sinal de que haverá luto na cidade.
Pois
olhos se acenderão, filha,
e
céus cintilarão, filha,
e
anos passarão, filha.
E
os grandes sinais se manifestarão,
e
não terão mentido os sinais,
humildes
e pobres se alegrarão,
pois
é a alegria que bate às portas.
Eu
sofro, sofro por teu coração amargo,
como
se voltassem a arrebatar-me a alma.
Eu,
que não tenho sonho, que não tenho luz,
sonhei-te
pesadelo no fim da caverna;
ao
despertar, teu sorriso despedaçado brilhava,
e
em tua mão o sangue tinha manchado a agulha.
Pois
a linguagem dos sinais é clara,
e
ei-la diante dos meus olhos e dos teus.
Não
é o bem que os sinais anunciarão,
não
é a alegria que bate às portas,
pois
ela não é para ti mas para teus carrascos.
Minha
filha, se uivam cães na cidade,
não
é sinal que um anjo passa pela cidade.
Minha
filha, se um anjo passa pela cidade,
não
é sinal de que se morrerá como tu na cidade.
Que
os teus ombros se preparem, filha,
pois
ainda não acabou, filha,
e
até o fim não terá piedade, filha,
e
virá um sinal, o último, filha.
Bebe
nosso cálice até as fezes.
Essa
é a nossa sorte – suportar os sinais.
Tu,
minha única! Sê forte e corajosa!
Não
é a alegria que bate às portas.
(do livro "Prosa e poesia de Israel", Tradução: Cecília Meirelles, Edição especial do Departamento Cultural da Embaixada de Israel, 1968)
E a foto mostra a evolução dos tempos. Das cidades invadidas pelas hordas de carrasco para as cidades habitadas pelas moças no janela vai um grande intervalo.
ResponderExcluirE hoje, quase um século depois sabemos o quanto é relevante honrar aos escravos. Se eu sento a uma mesa todos os anos e ensino aos meus filhos e netos que fomos escravos no Egito é para que eles possam ter a certeza que são resilientes e que podem superar adversidades.
Espero que outros também possam sentar à mesa todos os anos e prezarem os seus antepassados, de forma a legar aos seus filhos um futuro.