terça-feira, 8 de outubro de 2013

José Antônio Cavalcanti


Camuflagem

Quando a noite cai
ou sobe
ele veste uma roupa
em camadas
oníricas,
listrada de desejos,
fora de moda
e pobre.

Cor de tempestade,
tamanho M,
de pernas enormes,
toda em algodão
e cobre.

Cordão grená
segura o capuz de couro
em torno do pescoço
do homem que foge.

Mangas imensas,
abertas ao infinito,
constroem cavernas
para membros suspeitos.

Pernas ortopoéticas
amputam palavras
no campo de pés quebrados.

Rimas líquidas
enceram os sapatos com embriaguez
e elegância;
a música derrama malícia
no piso e no papel
sobre os quais ecoam
os passos em falso
de mil disfarces.

O inominado desaparece
quando aperta o sétimo botão
perolado da camisa bege
sem deixar vestígio.

Seu olhar é a polpa impalpável
do impossível.



José Antônio Cavalcanti. Poeta carioca. Dois livros no prelo: Anarquipélago, poemas, pela Ibis Libris: Palavra desmedida: a prosa ficcional de Hilda Hilst, tese de doutorado em Ciência da Literatura, pela Annablume. Alguns textos publicados em Cronópios, Cult, Zunái, Mallarmargens, Germina, Eutomia, Periódico de Poesía, entre outros sites e revistas. Publica seus textos no blog Caosgraphia - http://caosgraphia.blogspot.com




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