segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Brazil - Elizabeth Bishop

Song for the rainy season

 
Hidden oh hidden

in the high fog

the house we live in

beneath the magnetic rock,

rain-, rainbow-ridden

where blood-black

bromélias, lichens,

owls, and the lint

of the waterfalls cling,

familiar, unbidden.

 
In a dim age

of water

the brook sings loud

from a rib cage

of giant fern; vapor

climbs up the thick growth

effortlessly, turns back,

holding them both,

house and rock,

in a private cloud.

 
At night, on the roof,

blind drops crawl

and the ordinary brown

owl gives us proof

he can count:

five times–always five–

he stamps and takes off

after the fat frogs that,

shrilling for love,

clamber and mount.

 
House, open house

to the white dew

and the milk-white sunrise

kind to the eyes,

to membership

of silver fish, mouse,

bookworms,

big moths; with a wall

for the mildew’s

ignorant map;

 
darkened and tarnished

by the warm touch

of the warm breath,

maculate, cherished,

rejoice! For a later

era will differ.

(O difference that kills,

or intimidates, much

of all our small shadowy

life!) Without water

 
the great rock will stare

unmagnetized, bare,

no longer wearing

rainbows or rain,

the forgiving air

and the high fog gone;

the owls will move on

and the several

waterfalls shrivel

in the steady sun.
 

Sítio da Alcobaçinha

Fazenda Samambaia

Petrópolis

 
(do livro “Elizabeth Bishop / The complete poems: 1927-1979”, Farrar, Straus and Giroux)

 

Um comentário:

  1. Canção do Tempo das Chuvas

    Oculta, oculta,
    na névoa, na nuvem,
    a casa que é nossa,
    sob a rocha magnética,
    exposta a chuva e arco-íris,
    onde pousam corujas
    e brotam bromélias
    negras de sangue, liquens
    e a felpa das cascatas,
    vizinhas, íntimas.

    Numa obscura era
    de água
    o riacho canta de dentro
    da caixa torácica
    das samambaias gigantes;
    por entre a mata grossa
    o vapor sobe, sem esforço,
    e vira para trás, e envolve
    rocha e casa
    numa nuvem só nossa.

    À noite, no telhado,
    gotas cegas escorrem,
    e a coruja canta sua copla
    e nos prova
    que sabe contar:
    cinco vezes — sempre cinco —
    bate o pé e decola
    atrás das rãs gordas, que
    coaxam de amor
    em plena cópula.

    Casa, casa aberta
    para o orvalho branco
    e a alvorada cor
    de leite, doce à vista;
    para o convívio franco
    com lesma, traça,
    camundongo
    e mariposas grandes;
    com uma parede para o mapa
    ignorante do bolor;

    escurecida e manchada
    pelo toque cálido
    e morno do hálito,
    maculada, querida,
    alegra-te! Que em outra era
    tudo será diferente.
    (Ah, diferença que mata,
    ou intimida, boa parte
    da nossa mínima, humilde
    vida!) Sem água

    a grande rocha ficará
    desmagnetizada, nua
    de arco-íris e chuva,
    e o ar que acaricia
    e a neblina
    desaparecerão;
    as corujas irão embora,
    e todas as cascatas
    hão de murchar ao sol
    do eterno verão.


    Sítio da Alcobacinha
    Fazenda Samambaia
    Petrópolis


    Poemas do Brasil — Elizabeth Bishop [seleção, tradução e textos introdutórios Paulo Henriques Britto] — 1ª- ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 94-99.

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