Song for the rainy season
in the high fog
the house we live in
beneath the magnetic rock,
rain-, rainbow-ridden
where blood-black
bromélias, lichens,
owls, and the lint
of the waterfalls cling,
familiar, unbidden.
of water
the brook sings loud
from a rib cage
of giant fern; vapor
climbs up the thick growth
effortlessly, turns back,
holding them both,
house and rock,
in a private cloud.
At night, on the roof,
blind drops crawl
and the ordinary brown
owl gives us proof
he can count:
five times–always five–
he stamps and takes off
after the fat frogs that,
shrilling for love,
clamber and mount.
to the white dew
and the milk-white sunrise
kind to the eyes,
to membership
of silver fish, mouse,
bookworms,
big moths; with a wall
for the mildew’s
ignorant map;
by the warm touch
of the warm breath,
maculate, cherished,
rejoice! For a later
era will differ.
(O difference that kills,
or intimidates, much
of all our small shadowy
life!) Without water
unmagnetized, bare,
no longer wearing
rainbows or rain,
the forgiving air
and the high fog gone;
the owls will move on
and the several
waterfalls shrivel
in the steady sun.
Sítio da
Alcobaçinha
Fazenda
Samambaia
Petrópolis
(do livro “Elizabeth Bishop / The complete poems:
1927-1979”, Farrar, Straus and Giroux)
Canção do Tempo das Chuvas
ResponderExcluirOculta, oculta,
na névoa, na nuvem,
a casa que é nossa,
sob a rocha magnética,
exposta a chuva e arco-íris,
onde pousam corujas
e brotam bromélias
negras de sangue, liquens
e a felpa das cascatas,
vizinhas, íntimas.
Numa obscura era
de água
o riacho canta de dentro
da caixa torácica
das samambaias gigantes;
por entre a mata grossa
o vapor sobe, sem esforço,
e vira para trás, e envolve
rocha e casa
numa nuvem só nossa.
À noite, no telhado,
gotas cegas escorrem,
e a coruja canta sua copla
e nos prova
que sabe contar:
cinco vezes — sempre cinco —
bate o pé e decola
atrás das rãs gordas, que
coaxam de amor
em plena cópula.
Casa, casa aberta
para o orvalho branco
e a alvorada cor
de leite, doce à vista;
para o convívio franco
com lesma, traça,
camundongo
e mariposas grandes;
com uma parede para o mapa
ignorante do bolor;
escurecida e manchada
pelo toque cálido
e morno do hálito,
maculada, querida,
alegra-te! Que em outra era
tudo será diferente.
(Ah, diferença que mata,
ou intimida, boa parte
da nossa mínima, humilde
vida!) Sem água
a grande rocha ficará
desmagnetizada, nua
de arco-íris e chuva,
e o ar que acaricia
e a neblina
desaparecerão;
as corujas irão embora,
e todas as cascatas
hão de murchar ao sol
do eterno verão.
Sítio da Alcobacinha
Fazenda Samambaia
Petrópolis
Poemas do Brasil — Elizabeth Bishop [seleção, tradução e textos introdutórios Paulo Henriques Britto] — 1ª- ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 94-99.