quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pedagogia do Suprimido - Zeh Gustavo

Ânimo vândalo

O vândalo é a voz que se insurge ainda em estágio

de descalamento, de grito desrecalcado,

de uivo que penetra

os vãos do vento ordenheiro e pede passagem,

polo humano-urbano alcançado após se principiar

uma tentativa nova de dessupressão,

por parte do ser desvivo.

 
Vândalo se faz rio da vaga que tudo pode tomar,

argamassa que prepara a terra para edifício vindouro.

Vândalo se desloca e desaloca as coisas de seu lugar

de vício e vileza. Vândalo institui o desafogo

ao desabrigo, um hangar para a angústia

que planava sem gosto pelos ares,

zero que se assume um, um que se percebe mil e mais.

 
O vândalo é o poeta encardido diante de seu precipício

postergado, é a hora de se jogar, o sopro reacendido

quando se vislumbra no horizonte o monte

que se achava perdido no mapa.

É o rosto da malta-plebe, dos pingentes e dos pobres-diabos,

reacionados de vigor, reincorporados de si.

 
Monstro! O vândalo assobia uma canção e ela

é bela e faz chorar e faz doer também. Vidros

não se quebram por merreca. Bancos não pegam

fogo à toa. Amém aos policiais confinados chupando

balas de borracha! Uma salva ao estilhaçamento

da desalma dos supressores de plantão!
 
 
(do livro "Pedagogia do Suprimido", Editora Verve)
 
 
 

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