Ânimo vândalo
O vândalo é a voz que se insurge ainda em estágio
de descalamento, de grito desrecalcado,
de uivo que penetra
os vãos do vento ordenheiro e pede passagem,
polo humano-urbano alcançado após se principiar
uma tentativa nova de dessupressão,
por parte do ser desvivo.
Vândalo se faz rio da vaga que tudo pode tomar,
argamassa que prepara a terra para edifício
vindouro.
Vândalo se desloca e desaloca as coisas de seu lugar
de vício e vileza. Vândalo institui o desafogo
ao desabrigo, um hangar para a angústia
que planava sem gosto pelos ares,
zero que se assume um, um que se percebe mil e mais.
postergado, é a hora de se jogar, o sopro reacendido
quando se vislumbra no horizonte o monte
que se achava perdido no mapa.
É o rosto da malta-plebe, dos pingentes e dos
pobres-diabos,
reacionados de vigor, reincorporados de si.
é bela e faz chorar e faz doer também. Vidros
não se quebram por merreca. Bancos não pegam
fogo à toa. Amém aos policiais confinados chupando
balas de borracha! Uma salva ao estilhaçamento
da desalma dos supressores de plantão!
(do livro "Pedagogia do Suprimido", Editora Verve)
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