Poema
Sem poema não sou nada.
Sem poema sou cachorro velho
qualquer coisa que já não tem ebulição
que depende e pede.
Um cachorro velhíssimo.
Flor murcha demais.
Água estagnada.
Sem poema estagno totalmente.
Fico teia de aranha, bueiro,
perco a fé e a flexibilidade
viro dicionário superado
bato na mesma tecla
o tempo todo.
Mas digo isso sem convencer-me.
O dia seguinte já me esqueci.
E dá-lhe dor de cabeça, temores, dores infindáveis,
pura tortura moral.
Porque o compromisso com escrever
é também a pior coisa do mundo.
– Já viu?
Parece compromisso com fantasma
que essa noite quem sabe se vem.
Poesia, é preciso vomitar.
(do livro “Anos 70”, Editora 7Letras)
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