Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
Que é feito de ternura amarrotada,
Da frescura que vem depois do sol,
Quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
Como vultos perdidos na cidade
Onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
E é ternura também que vou vestindo,
Para enfrentar lá fora aquela gente
Que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas
ninguém sonha a pressa com que nós
A
despimos assim que estamos sós!
(do
livro “Cinco séculos de sonetos portugueses de Camões a Fernando Pessoa”,
organização: Cleonice Berardinelli, Casa da Palavra)
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