O cacto
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da
estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais,
caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades
excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e
quatro horas privou a cidade de [iluminação e energia:
– Era belo, áspero, intratável.
Petrópolis,
1925
(do livro "50 poemas escolhidos pelo
autor", Cosac Naify)
Nenhum comentário:
Postar um comentário