domingo, 26 de outubro de 2014

Concerto a céu aberto para solos de ave - Manoel de Barros



Prefácio


Assim é que elas foram feitas (todas as coisas)
– sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas –
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas 
– passaram esta tarefa para os poetas.


(do livro “Manoel de Barros – Poesia Completa”, Editora Leya)



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