terça-feira, 4 de novembro de 2014

Alan Salgueiro



Pra que eu escrevesse novamente sobre ela (entre covas e abóboras)


Entre Halloween e Finados
você reapareceu pra me dar susto
usando alguns dos seus subterfúgios
com aquele discurso definido

Tua prosa que era verídica
foi se arrastando cadavérica
cada velha lembrança
veio à tona em meio à autópsia

A minha dor que era um defunto
saltou tão reticente do decúbito
quanto você surgiu feito um fantasma
tão pasma, pálida e vestindo branco

Clamando por perdão e me assombrando
logo quando minha febre ia cedendo
você despertou do sono profundo
do túmulo saiu alguns segundos
voltou pra confundir o meu futuro
Fatídico Outubro pra Novembro

E beijou-me gélida
como a menina ruiva da novela
entre covas e abóboras
enquanto eu ouvia ópera
pra que eu escrevesse
novamente sobre ela

Em vez de tinta
eu derramei cera
Usei a vela
junto com a caneta
e enterrei de vez o algo mais
então sacramentei um outro fim
desejei que você fosse feliz
torci pra que você dormisse em paz


Alan Salgueiro é poeta, carioca das Laranjeiras, criado na Rocinha e morador de Nova Iguaçu. Alia à poesia, elementos do teatro e da música, tudo feito com mais intuição do que técnica. Gosta de palco, de público, de performatizar a expressão. É integrante do Coletivo Pó de Poesia, de Belford Roxo e idealizador do Projeto Rascunhos de Revolução.






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