terça-feira, 25 de novembro de 2014

Gustavo Petter



Sobre o grande gramado
crianças apiedam-se
de um pássaro morto

o tempo é outro 

regendo seu corpo

Árvores frondosas

respiramos tua sombra
esquecidos que houve
o fruto entre as folhas
cujas cores proferiam o podre
e a náusea nos impedia de colhê-lo

Ilegível aos olhos humanos

poderão os anjos lê-lo?
Difícil signo elegido
pela poesia como insígnia
de uma praça inscrita
no coração da cidade:

Dia ainda luminoso

quando enforcou-se
o andarilho encenando
um fruto suspenso

Para a ceia indigesta

reuniram-se os homens
O jornal local interpelou
testemunhas que viram
um estrangeiro esmolar
por ruas próximas
na desolação da tarde

Não há memórias

no olhar maciço
o busto de bronze
apenas ampara
o pouso dos pombos

Difícil signo elegido

pela poesia como insígnia
de uma praça inscrita
no coração da cidade:

A esperança em contemplar
crianças apiedarem-se
de um pássaro morto


Sou Gustavo Petter, nasci em 1984. Moro em Araçatuba/SP. Para mim signos eróticos e obscenos, anti-religiosos, meta-poéticos e associações livres coabitam com a materialidade da palavra e uma contemplação oriental no corpo do poema. O poema não admite policiamentos morais, estéticos. A liberdade possível é a linguagem.



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