Antipoética
Saber para o que não nasci
é apenas, ao que vim, desconhecer:
dor sem consolo terreno,
renovável túmulo do pudor.
Nenhuma oração a qualquer deus,
nem mesmo súplica a musa alguma:
inepta afirmação de falência retórica.
Porque falsamente desprovido de tudo,
senhor arbitrário do desengano por vir:
a faculdade de pensar em desconforme aliança
à necessidade de se revoltar,
sem que haja ilusão quanto a agir
(adiante de mim, vai a ânsia por viver).
Não me pergunto para que o viço a mais,
mas gozo o maldizer que isso é nada
que me valha a pouca tinta e o remover da pena.
Ao invés da vulgar e surda loquacidade
– a sempre reeditada algaravia lapidar
do nada mais a
dizer sobre o já dito –,
apenas um improdutivo (e indigno) silêncio.
(do livro “Rasga-mortalha: poemas dos outros”,
Editora Circuito)
Li e amei - por isso duas vezes seguidas!
ResponderExcluirGrato, meu caro, pelo carinho da apreciação;O]
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