quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Batuques - Guilherme Preger



Ladainha da chegança


Vivia meu cativeiro
no matagal da amargura,
onde só vingava o vago,
sem vento nem aventura.
Um resíduo de menino
residia na lembrança,
porém, quebrando o cabresto
num cabrito de criança.
Deu-se a faísca da fuga
por quebradas sem destino,
muita queda e cabeçada,
desatado desatino.
Abrindo brecha no mato,
sentia aragem de um sítio,
franca e fértil capoeira,
sujeito a todo princípio.
Aí fez-se o território
do encontro de vida incauta,
onde um gesto a outro ajunta-se,
multiplicados em malta.
A convergência da gente
flori em mil na paisagem
como estrelas tão distantes
que se imantam numa imagem.
Quem batalha no comum
não precisa de bagagem.

iê capoeiragem,
camará.

iê sopro de aragem,
camará.

iê comum é a viagem,
camará.


(do livro “Capoeiragem”, Editora 7Letras)



Nenhum comentário:

Postar um comentário