domingo, 2 de novembro de 2014

Tarde - Olavo Bilac



Ciclo


Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!

Dia. A flor, – o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!

Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da ideia em perfeição... Pensar!

Noite. Oh! saudade!... a dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!


(do livro "Poesias", Editora Itatiaia Limitada)



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