Carnaval ou meio-fio
Leve, fatigado:
As dores de minha
memória me isolam de mim.
Nada me obedece no meu
corpo.
Fragmentos me sorriem.
Poros me salientam.
Sambas me decantam.
Aves e formigas me
adotam.
Palhaços se encarregam
de minha alimentação.
Estou em desapego. Sigo
no descompasso.
A Lapa me mora.
Trago minha vida.
Falo sozinho.
Luto contra inimigos
antigos, invisíveis.
A noite é concreta e me
destina.
Vai acabar chovendo
migalhas de pão invés de choro da lua.
A rua me sobrevive
densamente.
A rua tem história, seu
próprio fardo.
A rua sofre. Não gosto
de perturbar ainda mais a rua.
Nós sofremos então
calados, integrados em nossas dores disformes.
E aí o traste do poema sufoca
e acaba.
(do livro “Idade do zero”, Escrituras Editora)
Ao entrar em teu poema .... !!!!! Adorei.
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