Soneto
[Descreve a vida escolástica.]
Mancebo sem dinheiro; bom barrete,
Medíocre o vestido, bom sapato,
Meias velhas, calção de esfola-gato[1],
Cabelo penteado, bom topete.
Presumir de dançar, cantar falsete,
Jogo de fidalguia, bom barato,
Tirar falsídia[2] ao
Moço do seu trato,
Furtar a carne à ama, que promete.
A putinha aldeã achada em feira,
Eterno murmurar de alheias famas,
Soneto infame, sátira elegante.
Cartinhas de trocado para a Freira,
Comer boi, ser Quixote com as Damas,
Pouco estudo, isto é ser estudante[3].
(do livro “Poemas satíricos”, Editora Martin Claret)
[1]
Tipo de brincadeira da região portuguesa do Minho.
[2]
José Miguel Wisnik sugere o significado de “contar mentira”.
[3]
Este é um dos inúmeros “retratos” na obra de Gregório de Matos. Através de
detalhes, que funcionam como pinceladas rápidas, o poeta vai compondo a imagem
do estudante, cuja descrição comporta uma série de predicados, dos quais nenhum
diz direto à sua função primordial. Sua vida se constitui em folgar, galantear
e viver de expedientes, Aparentemente, há o intuito de conferir permanência ao
quadro, à medida que as formas verbais predominantes são infinitas. (Antonio
Dimas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário