Canto II
Vai
É teu tempo que parte
Vai
É teu gesto que meneia
Vai
É tua sombra que continua
O instante é a única medida agora
Vai
Costura o meio por agora
Rasga o meio pelo agora
Penetra o meio por agora
Ir-se:
Sobra
diante do instante
- nada será possível como antes
todas as
coisas serão simples como são -
vai
as linhas invadem o tempo
minha época é costurada
meu
exílio
as linhas repartem o tempo
meu passado é o agora
retirado
meu limite é o instante
não
poderá se repetir
escapar aos momentos
costurar
o
manto do dia no sorriso que se impõe
costurar
cada
remendo cada pedaço cada pano
costurar
as
pontas do dia nas pontas do dia
vai
sem querer voltar
sem pedir de volta
sem partir de novo
porque assim estarão teus ir-ses costurados no
instante
porque assim estarão teus ir-ses imantados no agora
porque assim estarão teus ir-ses remendados no momento
vai
esse será o sentido
o único sentido que se deve reconhecer
o único motivo que se deve ter
o único ponto que se pode chegar
não olhe jamais para aquela janela que está fechada
não olhe jamais para aquele sinal que foi
ultrapassado
não olhe jamais para aquele rumo que irá ser tomado
vai
e
esqueça a linha que te segue
te cega
te trança
não há costura que te possa
(do livro "Pele tecido", Editora 7Letras)
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