domingo, 25 de maio de 2014

O mel do melhor - Waly Salomão



Ars poética/ operação limpeza


Assi me tem repartido extremos, que não entendo...
                                                    (Sá de Miranda)

I – SAUDADE é uma palavra
      Da língua portuguesa
      A cujo enxurro
      Sou sempre avesso
      SAUDADE é uma palavra
      A ser banida
      Do uso corrente
      Da expressão coloquial
      Da assembleia constituinte
      Do dicionário
      Da onomástica
      Do epistolário
      Da inscrição tumular
      Da carta geográfica
      Da canção popular
      Da fantasmática do corpo
      Do mapa da afeição
      Da praia do poema
      Pra não depositar
      Aluvião
      Aqui
      Nesta ribeira.

II – Súbito
       Sub-reptícia sucurijuba
       A reprimida resplandece
       Se meta-formoseia
       Se mata
       O q parecia pau de braúna
       Quiçá pedra de breu
       Quiçá pedra de breu
                                               CINTILA
       Re-nova cobra rompe o ovo
       Da casca velha
                                               SIBILA

 III – SAUDADE é uma palavra
         O sol da idade e o sal das lágrimas

(revista Imã)


(do livro "O mel do melhor", Editora Rocco)


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário